Capítulo 3
Aquela foi a última vez que vi o
meu pai. Momentos após à discussão chamaram uma ambulância que lhe levou. Um
ataque cardíaco levou a pessoa que eu mais amava. Eu era a sua princesinha e
ele o meu rei.
Graças à sua morte descobri que
ele, desde pequeno, sempre teve problemas de saúde. Talvez foi mais um motivo
que a minha mãe teve ao escolher o seu marido.
Quando era novo, as febres eram
algo habituais e desde algum tempo os médicos já vinham a desconfiar de que ele
estivesse a desenvolver algum tipo de cancro. Só não percebo porque é que não
me puderam contar mais cedo. Eu sei que não tinha o poder de lhe curar, mas sou
a sua filha, e isso deve contar para algo.
O funeral ocorreu dois dias após
à sua morte. A igreja estava cheia. Fiquei maravilhada com a quantidade de
gente que gostava do meu pai. Notava-se pelas suas caras que não foram
obrigados, estavam realmente tristes. As minhas amigas também foram e ficaram
sempre ao meu lado. Fiquei tão contente por puder contar com elas numa situação
como esta, só provaram que a nossa amizade é verdadeira. A minha mãe é que fez
uma triste figura e negou-se a levar o caixão, mas foi sempre atrás dele com
altos choramingos, sempre agarrada à tia Guilhermina. Já estava a prever. O
transporte do caixão coube a mim e a uns amigos do meu pai, quer do emprego,
quer de infância.
Já passaram dois anos desde a morte do meu pai
e continuo a sentir muito a sua falta. Já não sou a mesmo miúda, mas ainda há
momentos em que mal consigo estar no mesmo lugar que a minha mãe, mas foi ela
que ficou com a minha posse e mesmo agora com dezoito anos completados tenho
pena de a deixar sozinha. Ok, lá no fundo gosto dela, pois querendo ou não foi
ela que me deu à luz e é impossível de fingir que não é verdade, visto que sou
a sua cara chapada.
Mas às vezes é difícil. Após a
morte do meu pai, ela mudou completamente o seu comportamento. Tornou-se
naquilo que apenas eu desconfiava que fosse o seu verdadeiro eu. As pessoas
achavam, que esta mudança fosse apenas graças à morte do marido. Mas não podia
concordar.
Desfez-se das roupas do meu pai,
escondeu as suas fotos. Aliás, a únicas fotos que ficou em que ele aparece
estão no meu quarto. Uma foi tirada numa viagem que fizemos em família, onde
fomos visitar a Inglaterra, à quatro anos atrás, em que aparecemos os três no
London Eye. Outra foi tirada no dia em que nasci, onde apareço ao seu colo. A
terceira e última foi tirada dias antes da sua morte e é a mais recente de
todas as fotos em que ele entra.
(continua...)
Estão a gostar?
Bom feriado para todos :)
Bom feriado para todos :)
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