(...)
De resto as outras mudanças foram
a nível psicológico. Sai à noite para ir a bares com as amigas (ou melhor, com
“amigos”) e passa os dias nas compras. Mas, há novidades.
A primeira é que ela arranjou um
trabalho. É na empresa de marketing do seu pai. Como se considera uma pessoa
com bom gosto, lá conseguiu convencer o meu avô a arranjar-lhe um emprego.
Tecnicamente, apenas diz se gosta ou não, se vende ou não. Vai lá três tardes
por semana, mas acaba por ficar cansada para o resto da semana. Ao menos essas
tardes, para mim, são como o paraíso.
A segunda é que arranjamos uma
empregada, chama-se Glória e é da idade da minha mãe. Como era eu e o meu pai
que cozinhávamos, graças à sua morte perdi a vontade de apenas fazer o jantar
apenas para nós as duas. Apesar dos quilos que está sempre a falar que tem de
perder, acho que morrer à fome não faz parte dos seus planos.
A terceira e última notícia é que
finalmente acabei a escola. Acabei o 12º com uma média de 18,3. A minha mãe
ainda me tentou convencer a ir para medicina para se poder gabar que a sua
princesinha andava a estudar para ser médica, apesar de saber perfeitamente que
a dança é a minha paixão. Eu apenas respondi-lhe que não iria desperdiçar anos
de treinos por uma profissão que está a ficar tão esgotada como todas as outras
e que a escola para mim acabou e que não queria passar mais anos a estudar
arduamente. Com esta resposta, apenas a deixei amuada.
Agora, graças aos cursos e às
aulas de dança que tive, consegui um diploma que me deixa dar aulas e é a isto
que agora me dedico. Foi a única maneira que consegui de fazer o que gosto, sem
abandonar a minha família. Pelo menos não agora, ainda estão sentidos com morte
do meu pai.
Consegui um emprego numa escola a
quinze minutos de casa e trabalho de segunda a sexta, em horários variados.
A minha mãe outro dia veio com
uma conversa de que iria fazer umas mudanças no jardim e que já tinha umas
ideias. Eu concordei, pois não quero ficar zangada com a minha companheira de
casa e esta foi a última ideia boa dela desde que nasci, por isso tínhamos de
aproveitá-la. O jardim já não era o que era desde falecimento do meu pai. Tinha
uma pequena horta nas traseiras da casa, actualmente seca, que fui eu e o meu
pai que a criamos. Ainda tem o baloiço e umas plantas, mas se olharmos para a
casa quando nos encontrámos no exterior, graças ao jardim, parece que está
abandonada.
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