(...)
- O teu pai tem leucemia.
- Como é que a mãe consegue disser isso com a maior
das calmas. O pai tem uma doença que o pode levar… – já me saem lágrimas dos
olhos e sento-me no sofá - …à morte – estas últimas palavras saíram quase como
um suspiro, sendo quase impossível de percebê-las, mas ambos sabem ler os
lábios muito bem então lá acabaram por perceber.
- A tua mãe não te quis contar nada para te proteger.
Ontem foi o teu aniversário, filha. Dezasseis anos é uma idade magnífica, só
queríamos ver-te feliz.
- Está bem, isso compreendo. Mas deviam-me ter dito. E
já agora, pai é melhor ires ao médico que ainda não paraste de sangrar.
- Sim, mas…
- Nem mas, nem meio mas. Vais agora. IMEDIATAMENTE!
- Filha, não fales assim com o teu pai. Não foi essa a
educação que te demos. Não vez que ele está a sofrer.
- Espere lá, agora já está preocupada. Ao bocado só
estava preocupada com a jarra que era caríssima, que já estava à muito tempo na
família, blá, blá, blá… A mãe sempre se preocupou apenas com o dinheiro e a sua
aparência. E não me venha falar de educação que a mãe não esteve presente nos
melhores momentos da minha infância e não acredito que algum dia tenha amado o
pai. Apenas quis casar com ele pois tinha um futuro promissor e assim a mãe podia
gastar o dinheiro do seu pai e do seu marido, sem nunca precisar de trabalhar.
A mãe é uma mimada e uma preguiçosa. Vaidosa e fútil, sabe? Fútil.
- Eu é que sou a mimada?! Quem está a fazer um filme
sem necessidade é a menina.
- Um filme? Eu só estou preocupada com o meu pai, sua
falsa!
- DIANA SOFIA COUTINHO DE MOURA. Pára de tratar assim
a tua mãe. Estou farto das vossas discussões. Vocês não se entendem. São mãe e
filha.
- Querido, acalma-te. Pensa na tua saúde.
- Chega, estou farta disto tudo. Vou para o meu
quarto. Fui.
Subi as escadas e os meus pais continuaram na sala.
Enquanto lhes virava as costas, consegui ver uma lágrima a cantar do canto do
olho do meu pai e um pequeno sorriso a sair do canto da boca da minha mãe. Sim,
um sorriso. A prova de que precisava de que aquela a quem eu chamo mãe é uma
pessoa malévola. Odeio-a, especialmente por ser uma boa actriz. A pessoa que o
meu pai conheceu e se apaixonou nunca existiu. Foi tudo um teatro para
conseguir ficar com o dinheiro do seu marido (uma maneira de se orgulhar de si
própria pois em vez de depender do seu pai, como fora na maior parte da sua
vida, era, agora, dependente do seu marido, ou melhor, do dinheiro deste) e eu
fui mais um esquema do seu próprio plano. Agora como ela soube que o meu pai
iria morrer de doença, não sei. Só sei que não posso confiar nela e o meu pai
não merecia esta vida.
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